Não te perdi, pois nunca te tive realmente.
Hoje apenas quero chorar e não mais que isso, apenas chorar, chorar, chorar e chorar...amanhã vou estar melhor, muito melhor, pois lá no fundinho sei que vou ter esperança que venhas atrás de mim. Depois de amanhã vou continuar a ter a mesma esperança e depois de depois de amanhã também, e depois, e depois, e depois...
Um dia hei-de acordar sem me lembrar de ti, porque no fundinho eu sei que não vens atrás de mim.
Durante muito tempo pensei que era bonita só porque o dizias, cheguei a pensar que era uma princesa só porque o dizias, mas não...sou-o realmente e tu só dizias a verdade.
Hoje deixei-me ficar ao Sol, sem a desculpa do jornal, do café ou da conversa, deixei-me simplesmente estar, abri as mãos viradas para o céu e deixei-me ficar...senti o Sol e o vento tocarem-me levemente...ah que saudades de sentir!
Não vai chegar o dia do teu pedido de desculpas, mas se chegasse já seria tarde...por vezes é tarde para tudo até para um “adoro-te”, para um “és-me tanto” ou até para um “amo-te”...tudo é finito e, o teu tempo já passou, o teu e o do vazio, porque depois de ti há um nada, um vazio.
Ouvi uma história de um homem que andava por todo o lado a falar do vazio que sentia no coração, ele falava do seu vazio com toda a gente com quem se cruzava, ele não dormia, ele não conseguia dormir de tão vazio que estava...depois de ti houve alturas em que nem conseguia falar, será que estive mais vazia que ele?
Mas hoje, hoje nada mais importa se não o sentir, sentir apenas por sentir, o sentir simples, o simples prazer de sentir e sentir o prazer de sentir.
Quando chegaste as tuas mãos eram perfeitas para as minhas, pois encaixavam nelas na perfeição, a tua voz era perfeita, porque quando sussurrada tudo o resto desaparecia, e os teus olhos...os teus olhos eram perfeitos, porque me faziam sentir perfeita, perfeita como ninguém e imensamente feliz por isso, afinal, eu sentia-me perfeita para a pessoa que para mim também o era.
Mas como os anjos, que deixam de o ser para poderem pecar, deixando assim a perfeição que tinham e que eram também tu, sem seres anjo, perdeste a perfeição que eras e que tinhas em cada gesto, em cada centímetro do teu ser...e levaste para além da minha imensa felicidade a minha perfeição...pois só existiam por ti, para ti e contigo.
Mas foste buscar a tua felicidade, noutro caminho, que não cruza com o meu...
E se...
E se as tuas mãos não encaixarem em mais nenhumas que não nas minhas? E se a tua voz quando sussurrada não fizer sentido para mais ninguém como fazia para mim? E se os teus olhos não forem perfeitos aos olhos de mais ninguém? E se não conseguires fazer mais ninguém imensamente feliz? E se não tornares mais ninguém perfeito?
Que fazes?
De sorriso estampado, de sorriso quase tonto, de olhos a brilhar, com a felicidade escrita nos olhos...era assim que ela andava, lembras-te?
Ela era tão feliz contigo...
Adorava saltar para as tuas costas, ficar abraçadinha a ti, simplesmente, à espera que o tempo passasse.
E o encanto que ela amava, e que ainda não perdeste, e os olhos mais as pestanas mais o sorriso mais tudo o que eras e que a fazias ser e sentir, mais a perfeição que eras, e que também ela era, e a perfeição que eram os dois e um para o outro e os dois em conjunto, lembraste?
Era uma profusão de felicidade, amor e perfeição.
E de como tudo começou, lembras-te?
ELA LEMBRA, ela lembra tudo.
Hoje sou uma sombra esborratada do que um dia fui, não sei já sorrir e as asas que tive...as asas que tive cortei-as para poder caminhar ao teu lado.
Amei-te mais do que o que julgava humanamente possível , dei-te tudo quanto era meu, mostrei-te todo o meu mundo, sabias mais do que o que me fazia sorrir. Agora deixa-me só aproveitar este momento de força, este momento que sei que vai passar, este momento de força em que consigo falar de ti e de amor como se de assuntos encerrados se tratassem.
Queria voltar a ser a menina pequenina que não conhecia o significado das palavras que dão e tiram o verdadeiro sentido da vida, queria voltar a ser a menina que passava tardes a passear na bicicleta verde com a melhor amiga e que inventava histórias de fadas....queria voltar a ser a menina que só chorava quando caía.
Ao acordar percebi que este seria mais um dia em que o teu cheiro estaria por todo o lado e, que te veria sorrir para onde quer que olhasse.
Hoje, voltei a não olhar para o lado direito, pois não quero a certeza de que não andamos já de mão dada, e de que ando, afinal, sozinha pelas ruas.
Esta será mais uma noite em que dormirei, aqui, no sofá, para não ter chorar os beijos de boa noite que já não me dás, para não ter de lamentar o teu lugar vazio...
Voltei a ler livros infantis. Acredito que posso voltar a ser pequenininha, pois só acreditando nisto consigo acreditar que voltarás, e só assim me conseguirei levantar amanha, para voltar a sentir o teu cheiro por todo lado, para voltar a ver-te sorrir em todo o lado, para não voltar a olhar para o lado direito, para na próxima noite voltar a dormir no sofá e para ler mais uma páginas de um livro muito ilustrado em que de certo acabarão todos felizes e para sempre.
Até já, Amor, encontramo-nos nos meus sonhos.
Imaginei grandes momentos...momentos de sucesso, de risos, de relaxamento, de amor, de paixão...imaginei para nós um sem número de momentos felizes e únicos e sei que também os imaginaste diferentes mas igualmente para nós.
O conjunto de todos os momentos, dos imaginados e dos que não o sendo não foram menos importantes, é tudo o que de nós resta.
Acabou...
Nada fizeste para que o nosso fim chegasse, e eu, sabes bem que também nada fiz para isso.
Chorar não resolve nada ou sequer remedeia alguma coisa, mas é inevitável. Dizias que eu era forte só que não sabia e eu acreditava, acreditava porque eras tu quem mo dizia, acreditava da mesma forma que acreditava quando dizias que íamos ficar juntos para sempre.
Não sou forte como me dizias ser.
E que mais ninguém me venha com sentimentos ou lágrimas de crocodilo, ninguém sente tanto como eu.
Hoje achei que não conseguiria enfrentar o mundo, enfrentar as ruas, enfrentar os bancos de jardim, o café onde gostavas de ficar na conversa, enfrentar o jornal do quiosque que lerias calmamente...hoje achei que não seria capaz de enfrentar o mundo sem ti, porque em tudo há uma lembrança tua, porque em tudo há lágrimas a quererem ser choradas. Mas eu busquei forças, onde, não sei, mas elas vieram, arrastei-me até à exaustão, agora, agora só quero dormir, pois amanhã terei de voltar a enfrentar tudo sem ti.
Até já, Amor, encontramo-nos nos meus sonhos.