O corpo pesado, quase morto pelo cansaço cai sobre a cama, já adormecido…passou meses acordado, primeiro ansiando o teu regresso, sem garantias de ele vir mesmo a acontecer, depois temendo uma nova partida, que não suportaria…foi, hoje, vencido pelo cansaço. Descansa sereno e feliz, pois sabe, graças ao que lhe mostraste, que não tem de ter medo, estarás sempre por perto, estará sempre seguro e, aconchegado nos braços que ama.
Ao acordar verei os teus olhos pousados em mim, sentirei os teus braços envolverem-me, sentirei os teus lábios tocarem levemente na minha orelha, ouvirei a tua voz doce dizer: “Bom dia, Amor”.
A partir de hoje não terei mais medo de adormecer, pois sei que estarás sempre lá para me ver acordar.
Por favor não me desiludas como quase já o fizeste uma vez…
“Não, Amor, vai sozinho, hoje fico em casa, sinto-me cansada”, respondi-te ao convite que me havias feito para irmos beber um café e aproveitarmos depois o solzinho de Inverno no parque a namorar, ou a ler o jornal, ou ainda a fazer os dois ao mesmo tempo.
Ao ouvir o trinco da porta, que fechaste ao sair, não consegui evitar chorar, era como se tivesses saído para não mais voltares, era como se a minha vida tivesse terminado, pois só contigo me sinto, verdadeiramente, viva. Parece que és tu que me dás vida diariamente, parece que nasço a cada novo dia, e tu não és mais que a causa e a consequência de tal fenómeno.
Quando não te vejo tenho sempre medo de ficar assim, sem ti, a ver as horas e os dias passarem, igual a todas as outras pessoas que por não terem alguém como tu envelhecem. Todos me dizem que o tempo não passa por mim, talvez passe, mas por estar feliz não dou por ele e ele acaba por não me dar importância e, vai-se como veio, sem me incomodar na minha felicidade.
E tu voltas em menos de cinco minutos e, trazes contigo o jornal e, ligas a máquina de café e, eu limpo as lágrimas à pressa e, renasço quando dizes: “Voltei, Amor”.
Depois do que fui contigo, e quase fui com outros, depois da euforia, depois dos sorrisos, depois de todas as conversas, depois de todos saírem…vem o vazio.
O silêncio e a ausência apoderam-se de tudo, e eu, eu fico pequenininha no meio de tudo aquilo, de tudo aquilo que me ultrapassa, porque cada um teve de ir à sua vida, os amigos são óptimos mas têm as suas vidas, e quer queiramos quer não a nossa cruza-se muito pouco com a deles.
Tu, eu sei que voltas, pois parte da tua vida sou eu, tal como tu da minha, os outros…bem os outros foram uma espécie de amor, chegaram mesmo a preencher-me, mas nunca, como tu, a completar-me.
Estou de tal maneira dependente de ti e da tua companhia que fico de mau humor se estou demasiado tempo sem te olhar nos olhos, nos olhos que amo, sim, também os amo, afinal são uma parte de ti, como os teus defeitos…que também amo.
Amo-te até quando tenho de dizer “Porta-te bem”, naqueles momentos em que estás a ser infantil… “Estou aqui, Amor, não me fui embora”, é o me dizes quando estamos em filas diferentes e apareces junto de mim para o dizeres e depois desapareces outra vez…dizes aquilo que é no fundo o que queres ouvir.
Amo tudo o que és, mais o que me fazes sentir, e amo-te pelos teus defeitos, porque se fosse pelas qualidades todos amariam, seria mais fácil.
E mais que os outros que apenas me preenchiam, tu completas-me, amo-te.
Demorei a abrir a porta pois já não acreditava que pudesses ser tu, não acreditava que um dia fosses voltar, não acreditava que ainda me quisesses, ainda que quando te vi de olhar triste não soubesse ao certo o que pretendias ou se pretendias algo mais que me lembrar que te amo profundamente e que não eras meu…
Fiz-te sinal para entrares e nem uma palavra ousou soltar-se…sentaste-te no lugar de sempre, ainda que não te sentasses nele à quase dois meses, de pé à tua frente cruzei os braços enquanto esperava uma palavra tua, uma palavra que talvez justificasse a tua presença ou a tua ausência... “Desculpa…desculpa mas não aguento não te ver todos os dias, não aguento não te tocar todos os dias…desculpa” as palavras que usas-te e a forma como não me encaraste soaram-me a uma desculpa de homem, uma daquelas desculpas em que já ninguém cai.
Perguntei-te friamente se tinhas acabado de falar e disse que tinha algumas coisas a fazer e que não podia perder muito tempo com coisas que não interessavam, mas naquele momento tudo o que eu queria era abraçar-te e dizer-te que quase morri de saudades e chorar agarrada ao teu pescoço, chorar de felicidade após tanto tempo a chorar de tristeza…
Sem me olhares nos olhos levantaste-te e preparavas-te para sair, quando, num gesto brusco me abraças e me dizes que me amas e que foi tudo um erro e que queres ficar comigo, porque sem mim as coisas não fazem sentido, dizes que precisas de mim, dos meus miminhos matinais para acordares e para o teu dia correr bem, dizes que precisas de mim sempre a buzinar-te aos ouvidos o que é preciso fazeres, que precisas das nossas brincadeiras tolas que tanto te preenchem….tapei-te a boca, não quis ouvir mais nada, não precisava ouvir mais nada, não precisava das tuas lágrimas para me sentir melhor…conheço-te o suficiente para saber que não mentias.
Não te perguntarei por onde andaste, o que fizeste ou com quem estiveste, nada, não te perguntarei nada…quero-te aqui comigo e se é isso que queres e se me amas isso basta…as outras respostas não mudariam o que sinto por ti nem o que somos juntos.
Na primeira noite mal fechei os olhos…tive medo, medo que fosse um sonho e que quando os abrisse tu não estivesses lá, como não havias estado durante semanas, por favor não voltes a ir de férias sem me levar.
Algumas verdades magoam e parecem transformar outras verdades em mentiras, por isso, não quero saber, não quero saber nada sobre as tuas últimas semanas, só te quero aqui, e por favor abraça-me outra vez, e outra, e outra, e outra…e não mais palavras que isso, a tua presença e saber que me amas a mim bastam para te desculpar, ainda que não tenha nada que desculpar, foram só uma férias, sem nada de mal.
Amo-te e quero-te sempre como agora, comigo e feliz.
Hoje a tua imagem voltou a passar-me pela cabeça, hoje a saudade apertou mais um bocadinho, hoje quis ter-te como em tempos tive, hoje voltei a chorar…
Parece que todos os dias me lembro de coisas novas, é como se tivessem acontecido no dia anterior, antes também parecia que íamos ficar juntos e felizes para sempre e tal não aconteceu, estou mais só que nunca…afinal só me lembro de coisas diferentes, porque nada de novo aconteceu desde que…desde que me deixas-te.
Hoje lembrei a altura em que dizias que éramos mais que noivos, porque isso era apenas um pequeníssima parte do que éramos juntos, do que éramos um para o outro.
Deste o nosso futuro a dois certo durante tanto tempo que acabei convencida de que ia, mesmo, ser tudo perfeito, como o quadro de descrições que pintavas na altura.
Sempre me magoou o facto de apenas me teres escrito um poema, enquanto que para as outras…para as outras nunca os consegui contar, sempre achei que nunca conseguiria ter para ti a importância que elas tiveram, afinal talvez tivesse razão.
E dizias tu que me amavas, e acreditava eu em tudo o que me dizias, pobre louca.
Não consigo…não consigo queimar as cartas de amor que me escreveste, não consigo esquecer todas as coisinhas ridículas e fofas que me dizias, não consigo esquecer nada do que juntos fomos, não consigo, não consigo, não consigo…e nem sei se quero, realmente. Preferia que voltasses e que ficasse tudo como estava, como era…mas também não consigo desejar isso ardentemente, porque não te quero infeliz…porque amo ver-te sorrir, amo-te feliz, como em tempos o eras comigo.
Já passou mais de uma semana desde que partiste, ou dito outra maneira, de uma maneira que dói mais, mas a mim, pois a ti nada parece afectar-te, pareces intocável, intocável como o eras antes de me sorrires…já passou uma semana desde que me deixaste, já passou a minha hora, estou atrasada para tudo, tudo me passou ao lado nos últimos dias, menos a tua ausência…como é que isso me poderia passar ao lado? Não pode nunca.
Não penses que passei todos estes dias no chão do corredor a chorar a tua ausência…saí daqui centenas de vezes, mas acabo sempre por voltar, pois foi aqui que te vi pela última vez, amor tens-te alimentado bem? Algumas pessoas passaram por cá para verem como eu estava, não percebo porque o fizeram…foste tu? Foste tu quem lhes pediu para me virem dar um ombro? Ainda te preocupas comigo? Ou isso foi só um descargo de consciência? Podia ter todos os ombros do mundo…que de todos abdicaria se me faltasse o teu, como aliás falta. Saí daqui para abrir a porta aos que vieram e que se foram, sabes, todos me disseram obcecada, por ti, por uma amor que já não vale a pena…eles não sabem o que ter-te e o que é perder-te, dói…dói muito, dói de mais.
Ninguém sabe o quanto dói, pois ninguém te teve como eu te tive.
Esta foi uma noite que mesmo antes de chegar já a sabia inesquecível, ou não fosse o que era, a noite do baile, do baile de gala, do nosso baile de finalistas…
Tínhamos feito planos para aquela noite, tinhas pensado em levar uma gravata da cor do meu vestido, para mostrarmos a todos que estávamos em sintonia, tinha-te pedido que me abraçasses a noite toda para disfarçarmos uma escorregadela, caso acontecesse…tínhamos treinado a valsa umas três vezes, iríamos ler, juntos, o discurso de turma, que escreveríamos, também juntos, como o romance, que já intitulávamos de “o nosso romance”, perguntavas quase todas as semanas “Então, amor, quando começamos a escrever o nosso romance?”… acho que apenas perguntavas aquilo para teres alguma coisa que dizer, para quebrar os silêncios que eram já demais.
Estavas lindo, como sempre, mas não tinhas uma gravata da cor do meu vestido, não me abraçaste a noite toda, nem me chegaste a abraçar e pior não éramos já um par, o par que no baile não chegamos a ser e não gastamos tempo a ensaiar a valsa, perdemo-lo porque nunca a dançamos…e o discurso, bem o discurso foi escrito por outra, uma tua amiga que contigo o foi ler.
Quanto ao romance que não chegou a ser nosso porque nunca o chegamos a escrever…é hoje isso mesmo, um plano que existiu…como todos os outros que tínhamos e que morreram quando disseste que acabou, que não querias mais ser comigo.
Desfilamos sozinhos, eu com um sorriso postiço, tu não sei…mas desfilamos sozinhos…não tínhamos par para desfilar, mas magoou-me ver-te dançar a valsa com outra, magoou muito…e se chorei durante o discurso foi porque não olhaste para trás quando me viraste as costas pela última vez destruindo assim todos os nossos projectos, porque o discurso nem o consegui ouvir.
E nunca me chegaste a dizer se eu parecia, realmente, uma princesa como um dia disseste quando me imaginaste de vestido.
Porque foste embora? Porque não levas-te tudo?
Foram momentos de mais para uma malinha só…uma malinha onde apenas levaste roupa para uma semana…será que voltas na próxima semana? Será que vais pedir a alguém para vir buscar o resto das tuas coisas? Será que vais levar tudo o que é teu? Vais levar-me?
Ainda estou sentada no chão do corredor em frente à porta…estou à espera que voltes e que me digas que a nossa discussão não fez sentido…e que não podemos desistir nem de nós, nem dos nossos projectos, nem da nossa vida conjunta, nem…ainda estou à espera que voltes e que me abraces e que me digas “amo-te princesa” como dizias antes da discussão, como dizias antes de fazeres a mala, como dizias antes de saíres sem te despedir…nunca tinhas saído sem te despedir.
Será que não aguentaste tanta felicidade junta? Será que não fui suficiente para ti? Será que te fartaste de acordar comigo ao teu lado? Será que te fartaste de me olhar? Será que te fartaste do meu amor? O que aconteceu? Diz-me…preciso duma explicação…porque foste embora? Porque não me levaste? Porque não te despediste?
Porque não atendes quando te ligo? Fartaste-te da minha voz? Talvez te tenha falado de mais das minhas coisas…mas se quiseres não volto a falar-te delas…se quiseres posso passar a dormir no sofá, não precisas acordar ao meu lado…mudo tudo por ti…mudo tudo para que voltes.
Por favor volta. Quem brincará com o teu cabelo? Quem resmungará contigo quando fores egoísta? Quem te vai limpar as lágrimas caso elas apareçam? Quem vais pegar ao colo? A quem vais chamar princesa? Será que tens outra pessoa? Já lhe disseste que detestas batatas cozidas e que também não gostas de peixe? Ela já sabe que nem um prego sabes pregar? Será que ela gosta mesmo de ti? És mais feliz com ela que comigo? Também lhe cantas ao ouvido? Dizes-lhe aquelas coisas bonitas que me dizias antes de discutirmos?
Porque não me respondes? Porque me deixas aqui à espera do teu regresso sem se quer saber se ele vai mesmo acontecer? Sabes bem que ainda estou sentada no chão do corredor…sabes bem que choro…sabes bem que sou doida por ti…sabes bem que te amo…porque discutimos?
Amor, não importa se ele me amou mais que tu, o teu amor chega-me, o teu amor completa-me, o teu amor preenche-me, o teu amor é tudo para mim…eu sei o que é melhor para mim e não posso ter melhor que tu, nem o mereço…por favor volta…escolhi-te a ti, a ti, amor…não percebo porque discutimos, nem porque ainda não voltaste.
Fizeste de mim princesa…arranjaste maneira de mostrar a todos o que sentes e pensas de mim…fizeste-te pinxexo e arranjaste maneira de o mostrar a todos.
Quais as tuas verdadeiras intenções em cada um desses momentos? Não sei, nem sei se alguma vez as saberei…acreditarei sempre no que disseres, porque dizes sempre o que quero ouvir, e faze-lo sempre, não falhas uma única vez, dizes sempre o que quero ouvir, sempre, sempre,sempre …
Sabes, amor, às vezes não sei se acredito por ser, realmente, verdade o que dizes ou se acredito porque quero acreditar, porque preciso de acreditar, porque preciso das tuas palavras, porque preciso exactamente daquelas palavras vindas de ti…preciso de tudo isto para ter uma sobrevivência feliz, num mundo onde o verbo amar está banalizado, como se amar fosse para todos….que ideia mais ridícula…amar não é para todos. Só nós amos, eu e tu, os outros têm uma espécie de amor…eles pensam o mesmo de nós mas é obvio que o amor foi feito para nós, fica-lhes curto nas mangas a eles, pobres coitados, dizem o mesmo de nós, não sabem o que dizem.
Sabes, amor, antes de dizeres o que quer que seja eu não consigo evitar desejar que digas aquilo que acabas sempre por dizer…o facto de para mim estares a um passo da perfeição inibe-me, a um nível quase biológico, de duvidar de uma das tuas palavras, porque nunca acreditarei noutra pessoa que não em ti, porque não considero a existência de uma pessoa capaz de estar tão perto da perfeição que não tu, não existe mais ninguém tão perto da perfeição como tu, não posso duvidar de uma pessoa que é praticamente perfeita.
Por favor tenta nunca te aproveitar desta minha fraqueza.
O meu amor é cego quanto ao que os outros dizem.
Passei a noite a ouvir-te dizer-me, baixinho ao ouvido, “Adeus princesa” e aquela frase…aquela voz…aquele adeus tão definitivo...não me deixaram dormir, apenas chorar, chorar abraçada à tua almofada, aquela almofada onde não chegaste a dormir, aquela almofada que não chegaste a ver, aquela almofada que não cheguei a dar-te, aquela almofada a que me abracei para chorar.
Sem ti, sem as tuas palavras, sem os teus sorrisos, sem as tuas minhas coisas e momentos deixo de ser uma princesa, a princesa que não cheguei a ser, a princesa que apenas tu vias, a princesa que construíste e que agora, com essa voz e com esse adeus tão definitivo, desaparece…desaparece sem na realidade ter aparecido ou existido.
E o que sobrou de nós foi a tua minha almofada a que me abraço para chorar porque “amam-me demasiado as coisas de que me lembro”.