Quinta-feira, 31 de Julho de 2008
Henrique, de seu nome fictício, é um homem, com cara de homem, com olhar que homem, com mãos de homem, com embirrações de homem, com desejos de homem, com hábitos de homem e com medo de crianças.
Teresa, de seu nome não fictício, é uma menina, com cara de menina, com tamanho de menina, com sonhos de menina, com hábitos de menina, com mau feitio de menina, com birras de menina, com desejos de mulher.
Era uma vez uma menina e um homem que se conheceram, ele queria ler descansado e ela, no banco ao lado, não parava de cantar, então ele levantou-se calmamente e, foi pedir-lhe para que se comportasse, disse-lhe que aquilo não se devia fazer, aconselhou-a de qual a melhor postura a adoptar, mas, começou a chover e correram cada um para seu lado para se abrigarem.
Se depois inconscientemente arranjaram desculpas para se encontrarem no jardim, se depois conversaram horas sem fim, se depois se desejaram intensamente…foi porque, porque foi? Não cheguei a perceber essa parte da história!
Talvez sejam loucos. Talvez se amem. Talvez queiram o que lhes falta. Talvez queiram trocar de idades. Talvez ela queira embirrações de mulher e ele birras de menino. Talvez ele queira ter medo de mulheres. Talvez ela queira ter um olhar de mulher. Talvez…
Ele só queria uma mulher para ver o entardecer junto às montanhas, para o fazer sentir vivo quando tudo o resto lhe faltar.
Ela, bem ela só queria um sorriso nos lábios, uma simplicidade ou um materialismo, um amor ou uma aventura, um sorriso nos lábios.
Eles queriam coisas diferentes.
A verdade é que ele teve medo, e fugiu. Ela ainda esticou o braço. Ainda lhe disse o que ele queria ouvir, mas porque queria ele ouvir aquilo? Não o fez regressar, não fez sentido, talvez ele seja louco, talvez ela seja louca, por ainda lhe ter esticado o braço para o tentar reter.
Talvez todos sejam loucos.
Terça-feira, 15 de Julho de 2008
Não me lembro já de quando foi a ultima vez em que vi a bicicleta verde. Sei que nos passeávamos, as duas, tardes inteiras nela, independentemente de chover ou fazer sol e, assim foi, durante alguns anos...tu, eu e a minha velha bicicleta verde.
Lembro-me bem dos teus grandes olhos, lembro-me bem deles a olharem-me com encantamento por entre a marrafa comprida do teu grande cabelo, grosso e castanho. Lembro-me dos ramos de flores que trazias sempre contigo, dos ramos com as flores de todas as cores e feitios que estavas sempre a apanhar por todo o lado.
Há uns tempos, enquanto arrumava uns caixotes antigos encontrei algumas bonecas com que brincávamos, é provável que naquele caixote esteja alguma coisa que te tenhas esquecido, num qualquer final de tarde, por teres ido às pressas responder ao chamamento da tua mãe.
Sei que não te esqueceste das histórias que inventava para ti, das histórias em que te dizia que voava e que conseguia falar com fadas. Sabes, tu acreditavas mesmo em cada uma das minhas palavras…se calhar a minha vontade de inventar histórias vem já dessas histórias de fadas, dessa nossa infância feliz e inocente.
Talvez um dia consigamos editar os nossos livros e vende-los às dezenas, como um dia tínhamos projectado juntas.
Hoje, não me acho já capaz de inventar aquele tipo de histórias, como também, não te acho tão crente ao ponto de acreditá-las como verdadeiras. Sabes, Inês, eu acho que se nos metessem agora bonecas à frente saberíamos ainda brincar com elas, apesar do verniz vermelho e dos saltos altos que já não usamos no faz de conta, mas no dia-a-dia.
Domingo, 13 de Julho de 2008
Volta a entrar pelo portão todas as manhãs…de cabelo molhado, com a tua eterna cara de sono…volta a pegar-me na mão enquanto falamos de literatura.
Volta a sentar-te à minha frente…tira-me os óculos que nunca ponho, finge que são teus, com esse teu ar sério…entra e sorri para mim enquanto me entregas poemas novos.
Volta a levar-me para conhecer o sótão…aponta-me a lanterna, olhar-me com olhos de quem olha para a pessoa que ama, apaga a lanterna…ri-te de mim, outra vez, pergunta-me porque fujo.
Volta a correr atrás de mim, mete-me, outra vez, às tuas cavalitas, deita-te comigo na relva sem medo de sujar a roupa, simplesmente, a rir…
Volta a encostar-me à porta enquanto me beijas…volta a ficar embaraçado enquanto te declaras, volta a mandar-me mensagens a dizer que és um admirador secreto…volta simplesmente a dizer que me amas.
Volta, com o teu ar desajeitado, a compor a camisa, volta a tirar o cabelo dos olhos, volta a falar-me do quão largas são as mesas…pergunta-me o que sinto realmente por ti…e diz-me que não terias escolhido melhor as palavras.
Tranca todas as portas que deixarmos para trás, encosta-me à última, beija-me, e, diz que me amas.
Volta, simplesmente, a amar-me...
Amo-te e tenho saudades do teu amor.
Segunda-feira, 7 de Julho de 2008
Entra. Senta-te. Finge que nunca saíste. Diz que me amas. Ama-me do fundo de ti. Ama-me com tudo o que tens. Ou então finge, finge tão bem que eu não possa perceber que finges. Finge tão bem para que pense que me amas realmente. Finge tão bem que me possas restituir toda a felicidade que um dia me deste e que noutro me tiraste.
Entra. Senta-te. Finge que nunca saíste. Fala-me de mansinho. Nunca te cales para que eu não sinta o vazio do silêncio nem a ausência da tua própria presença. Ama-me com cada uma das tuas palavras. Ou então finge, finge tão bem que não possa perceber que finges. Finge tão bem que eu não possa perceber que finges o amor que pões em cada uma das palavras. Finge tão bem que eu sinta que queres ficar a conversar comigo toda a eternidade. Finge tão bem que me possas restituir toda a felicidade que um dia me deste e que noutro me tiraste.
Entra. Senta-te. Finge que nunca saíste. Ama-me. Ama-me com tudo o que tens, ou então finge amar-me realmente. Fala-me de mansinho. Ama-me com cada uma das tuas palavras, ou então finge o amor que pões em cada uma delas.
Se não for para me convenceres que me amas, se não for para restituir toda a felicidade que um dia me deste então não entres. Vai-te embora e fingirei a tua morte.
Quarta-feira, 2 de Julho de 2008
Passo horas deitada. Passo horas a olhar-te. Eu olho-te e tu dormes.
Por vezes tenho uma vontade louca de te dar beijos e mais beijos. Ás vezes só te quero acordar com beijos. Nem sabes quanto tempo resisto até te acordar, finalmente, com beijos pequeninos, beijos suaves, beijos repenicados, beijos… Não consigo resistir a acordar-te com beijos só para poder ver os teus olhos pousados nos meus.
Mas também há as outras vezes. Há aquelas vezes em que te sinto distante, em que te sinto, especialmente, distante. Ás vezes, enquanto te olho procuro em mim aquela vontade incontrolável de te encher de beijos...mas não a encontro. Ás vezes, enquanto te olho tento procurar em mim outro sentimento que não alheamento…mas não encontro.
Não chego a conseguir perceber o porquê de ainda estar contigo. Não chego a conseguir perceber a dor que ainda tenho. Não chego a conseguir perceber porque não me levanto e me vou embora, deixando, simplesmente, de te olhar.
Sei que não irias atrás de mim se me fosse agora embora.
Sei que me arrependeria se me fosse agora embora.
Sei que não te poderia voltar a acordar com beijos se me fosse agora embora.
Sei que não voltaria a ver os teus olhos pousados nos meus se me fosse agora embora.
Sei que não voltaria a ter aquele sorriso que só tu me dás.
Não sei porque te continuo a amar se não me amas, nem porque não me canso de te olhar enquanto dormes.